— Adoro animais e quero ter uma vaquinha de leite e talvez um cavalo no meu sítio, mas ainda está tudo em obras, eu me mudei para cá há pouco tempo, menos de dois meses — diz ela, sentada num sofá na sala do vizinho, um veterinário, enquanto ajeita os longos cabelos cacheados.
A mineira de Sete Lagoas, que encantou Roberto Carlos, em 2010, durante um show na Praia de Copacabana, e vendeu mais de 1,6 milhão de cópias do seu último disco, "Paula Fernandes ao vivo" (2011), não se mudou para lá sozinha. Mora com a mãe ("Ela faz um frango caipira sensacional"), a irmã, uma prima ("Que também é minha secretária") e seus dois cachorros, Floquinho e Zeus.
— Precisava de um lugar que me trouxesse um pouco de sossego, minha vida já é muito agitada — conta ela, que faz, em média, 25 shows por mês. — É um entra e sai de hotel que às vezes eu preciso de uma colinha para me lembrar de onde estou. E olha que eu tenho uma memória muito boa. Mas estou tentando dar uma controlada nesse ritmo. Por isso, estou até pensando em comprar um jatinho, algo que nunca cogitei. Não é luxo desnecessário ou vaidade. Hoje vejo que é uma necessidade. Ando tanto de avião que as minhas milhagens devem estar nas alturas.
Aos 18, na onda da Geografia
A vida na estrada ou no ar não chega a ser uma novidade para Paula, que aos 12 anos se mudou com a família para São Paulo, depois de ser contratada por uma companhia de rodeios, com a qual rodou o interior do país. Por conta dessa experiência toda, ela diz que às vezes olha para o mapa do Brasil como se fosse um tabuleiro de um jogo do tipo "War", marcando os locais por onde já passou.
— Eu mesma me espanto por ter estado em tantos lugares e ter vivido tanta coisa com tão pouca idade. Só não perdi a cabeça porque sou muito disciplinada, como toda virginiana, e tenho um família maravilhosa ao meu lado. Acho que foi por isso que não me deslumbrei com o sucesso. Aprendi a lidar bem com essa situação. Só sinto falta de ir ao supermercado.
Aos 18 anos, porém, ela chegou a pensar em parar de cantar — na época, já tinha dois discos independentes lançados. Morando em Belo Horizonte, resolveu entrar para uma faculdade, chegando a cursar Geografia na PUC.
— Nossa, não sei onde eu andava com a cabeça. Estava aflita, querendo fazer faculdade de qualquer maneira e achava que Geografia tinha a ver com meu gosto pelo campo, pela terra, mas logo eu estava cantando em bares para pagar o curso e confirmando que a música era mesmo a minha paixão.
Em vez de geografia, o resto foi história. Incentivada pelo músico e produtor Marcus Viana, Paula gravou uma versão de "Ave Maria", de Schubert, que foi parar na trilha sonora da novela "América", exibida pela Globo em 2005. No mesmo ano, gravou seu terceiro CD, "Canções do vento sul", com a participação do grupo Sagrado Coração da Terra (do próprio Viana) e do cantor Sérgio Reis. Não parou mais.
— A Paula é cantora, instrumentista e autora. E excelente nesses três campos. São as características de uma artista completa — afirma Viana. — Além do mais, ela tem uma pegada bastante original no violão, que poucos conseguem repetir. Ela me lembra muito a Joni Mitchell.
— Ela é muito talentosa. Estive com ela em estúdio apenas uma vez, mas fiquei impressionado com a rapidez com que gravamos, de primeira, sem erro algum — conta o violonista Almir Sater, que gravou com Paula a música "Jeito de mato", incluída no disco "Pássaro de fogo", lançado por ela em 2009.
Hoje contratada da gravadora Universal, a "cantora, instrumentista e autora" comanda uma equipe de 50 pessoas, entre assessores, músicos, técnicos de som, >ita<roadies etc.
— Desses 50, só três são mulheres, o resto é tudo homem, mas eles nos respeitam direitinho — brinca, dizendo ser "uma microempresária de si mesma".
É com esse time na retaguarda que ela viaja pelo país, agora se preparando para divulgar "Meus encantos", que tem participações de Zé Ramalho, do astro colombiano Juanes e da cantora americana Taylor Swift. O disco chega às lojas no próximo dia 29, mas seu primeiro single, "Eu sem você", foi lançado no iTunes no fim de abril.
— Não diria que é um disco de rupturas, mas sim de consolidação, de continuidade. Não mudei meu estilo, nem me senti pressionada a repetir o desempenho de vendas do disco ao vivo. Este disco novo apenas retrata a minha fase, o meu momento. As novidades que ele traz são bem sutis, uma orquestração aqui, um toque eletrônico ali, bem discreto, como na própria faixa-título, na qual rola uma viagem sonora.
Boates? Ela tá fora
Bem discreto mesmo. Afinal, Paula confessa que não é muito chegada a pistas de dança. Ela mexe mais uma vez nos cabelos e ri quando lembra suas experiências na área.
— Eu só fui a boates três vezes na vida. Na primeira, não curti muito aquela música alta, as luzes e principalmente a fumaça, já que sou alérgica. Nas outras vezes, não foi muito diferente — conta ela, que teve também uma fase rock, por conta de um ex-namorado. — Ele era louco por black metal, acredita? Eu ouvia, até gostava de alguma coisa, mas não era para mim. Por causa dele, aprendi a gostar do Metallica. Mas seria mentira dizer que eu batia cabeça ouvindo metal. Na maior parte dos casos, ele ia sozinho aos shows. Eu dizia: "Vai, meu amor, pode ir, eu vou ficar em casa."
Canhota, Paula diz que observava com admiração músicos canhotos também, como Jimi Hendrix e Paul McCartney. E destaca uma inusitada vantagem no lado esquerdo da Força.
— Toco com as cordas invertidas, parece tudo torto. Mas é bom porque no churrasco ninguém vem com a mão suja de linguiça pegar no meu violãozinho — brinca ela, arrumando mais uma vez os cabelos e ficando ruborizada ao lembrar de uma coisa. — Não sei se deveria dizer isso, mas tenho mania de usar cotonete, principalmente quando eu fico nervosa.
Fonte: O Globo
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